Relatório da ONU pede revisão de padrões de extração e consumo
Acaba nesta sexta, 15, a 4ª Assembleia Ambiental da ONU, com o tema “Pense no planeta, Viva simples”, sobre padrões de produção e consumo, em Nairóbi, no Quênia.
Maior fórum mundial sobre proteção ambiental, o encontro reúne chefes de estado, ministros e congressistas ligados ao meio ambiente, ativistas, pesquisadores, representantes de empresas e ONGs. Nesta edição, são dois objetivos fundamentais: fazer uma avaliação crítica de padrões de consumo e produção atuais e difundir soluções inovadoras e sustentáveis, para inspirar governos, empresas e indivíduos.
Segundo o presidente da Assembleia, Siim Kiisler, apesar do progresso inspirado pelos objetivos globais, os ODS, há um impedimento forte para que eles sejam alcançados: “as escolhas que fazemos em nossas vidas cotidianas continuam a alimentar hábitos de consumo e produção que cada vez mais excedem os limites do nosso planeta”.
Um dos resultados da conferência foi o “Panorama Ambiental Global 2019”, GEO-6, a principal avaliação periódica da ONU sobre energia, alimentação e água do ponto de vista social, econômico e ambiental.
Ele examina tendências em recursos naturais e o seus padrões de consumo desde os anos 1970, com o objetivo de dar subsídios a formuladores de políticas em tomadas estratégicas de decisão e na transição para uma economia sustentável.
O relatório, divulgado na terça-feira, 12, mostra, por exemplo, que a extração de recursos mais que triplicou desde 1970 e houve aumento de 45% no uso de combustíveis fósseis, passando de 6 bilhões de toneladas em 1970 para 15 bilhões de toneladas em 2017.
MENSAGENS PRINCIPAIS DO PANORAMA 2019
O uso dos recursos naturais triplicou desde 1970 e continua crescente
Os padrões atuais e históricos de uso dos recursos naturais estão gerando impactos cada vez mais negativos ao meio ambiente e à saúde humana
O uso de recursos naturais e benefícios e os impactos ambientais gerados por esse uso estão distribuídos de maneira desigual entre os países e regiões
Se não forem tomadas medidas urgentes e coordenadas, o rápido crescimento e o uso ineficiente de recursos naturais continuarão gerando pressões insustentáveis sobre o meio ambiente
Desvincular o uso de recursos naturais e os impactos ambientais da atividade econômica e do bem-estar humano é essencial na transição para um futuro sustentável
Conseguir a desvinculação é possível e pode proporcionar benefícios sociais e ambientais substanciais, inclusive a reparação de danos ambientais anteriores, que contribui para o crescimento econômico e o bem-estar humano.
Os responsáveis pela formulação de políticas e os tomadores de decisão têm à disposição ferramentas que podem gerar mudanças significativas nos níveis local, nacional e mundial.
Os intercâmbios e a cooperação internacional podem contribuir significativamente para o sucesso da mudança sistêmica.
Segundo o Panorama, a extração e o processamento de materiais, combustíveis e alimentos contribuem com metade das emissões de gases do efeito estufa no planeta e com mais de 90% da perda de biodiversidade e do estresse hídrico.
De acordo com o documento, as últimas cinco décadas, a extração global anual de materiais passou de 27 bilhões de toneladas para 92 bilhões de toneladas (até 2017). No mesmo período, a população dobrou e o Produto Interno Bruto (PIB) global aumentou quatro vezes.
De 2015 até 2060, espera-se que o uso de recursos naturais cresça 110%, levando a uma redução de mais de 10% das florestas, com aumento de 43% nas emissões de gases do efeito estufa.
O Panorama defende que além de buscar maior eficiência nas atividades econômicas, é preciso caminhar em direção à economia circular, através de ciclos de vida mais longos para os produtos, design para durabilidade e reúso, reciclagem e remanufatura.
Segundo cálculos do documento, com eficiência e políticas sustentáveis de consumo e produção, o crescimento do uso global de recursos pode desacelerar em 25% até 2060, o produto interno bruto global poderia crescer 8% — especialmente nas nações de renda média e baixa — e as emissões de gases do efeito estufa poderiam ter queda de 90%, na comparação com projeções que seguem as tendências históricas.
Para a diretora-executiva interina da ONU Meio Ambiente, Joyce Msuya, o Panorama mostra que o mundo está avançando sobre os recursos finitos “como se não houvesse amanhã, causando mudanças climáticas e perda de biodiversidade ao longo do caminho”.
Fonte: Folha SP